terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

UM GORDINHO INGLÊS

Minha crítica de hoje é sobre um dos meus cineastas favoritos e, creio eu, um dos melhores de todos os tempos: Alfred Hitchcock.

A. Hitchcock em um still de Psicose (1960)


Em muitos lugares há a associação de Hitchcock como "mestre do suspense", mas creio que isso seja menosprezar a obra desse grande mestre. Sim, ele fez cenas de suspense como poucos, basta lembrar dos passos do assassino se aproximando no escuro em Janela Indiscreta (1954), de 'Tippi' Hedren subindo as escadas em Os Pássaros (1963), a bomba por explodir em Sabotagem (1936) ou a invasão da casa dos Bates no clássico Psicose (1960).
Mas há muito mais na obra de Hitchcock que apenas suspense: Hitchcock foi, antes de tudo um experimentalista. Se pode-se acusá-lo de abusar de clichês nos roteiros (a bela protagonista que ajuda o mocinho a provar sua inocência) não se pode acusa-lo do mesmo em sua forma de narrar. Cada filme é uma deliciosa nova jornada dentro do mundo cinematográfico: o filme quase sem cortes em Festim Diabólico (1948), a câmera contida no apartamento em Janela Indiscreta (1954), o movimento de câmera em "ré" em Frenesi (1972), a plano em 90º absolutamente transgressor de Psicose (1960), a escada gótica de O Pensionista (1927) e o som de Chantagem & Confissão (1929), primeiro filme falado da Inglaterra e que foi gravado mudo, prevendo a adição posterior de som.
Hitchcock pode tranquilamente ser usado como um exemplo do papel de um diretor, seus filmes são geralmente adaptações de novelas policiais medíocres e, no entanto, são transformados - pela direção - em obras-primas. Digo que o mérito é da direção (Hitchcock não escrevia os scripts, contratava roteiristas para escrevê-los), pois é através da narração de Hitchcock que essas histórias despretensiosas ganham forma (é o que diferencia um "simples" assassinato em um hotel em beira de estrada da clássica cena do já citado Psicose).
De uma forma geral, Alfred Hitchcock foi um cineasta que não se repetiu de filme para filme (um paradoxo se lembrarmos das temáticas dos filmes). Assistir a cada filme do diretor é se permitir entrar em uma nova experiência narrativa que não se prende em nenhum momento ao cinema de vanguarda, mas que nos remete muito a Fritz Lang e Orson Welles (que deve muito de seu estilo ao mestre em questão).
Se você deseja conhecer mais da obra de Hitchcock, pode começar por qualquer filme, pessoalmente indico os já citados Festim Diabólico (1948), Janela Indiscreta (1954), Os Pássaros (1963), Psicose (1960), Frenesi (1972), O Pensionista (1927), além de Spellbound (1945), a comédia O Terceiro Tiro (1955), Intriga Internacional (1959), O Homem que Sabia Demais (apesar de ambas as versões serem boas, pessoalmente prefiro a americana de 1956), Disque M para Matar (1954), A Dama Oculta (1938) e Ladrão de Casaca (1955). Uma outra solução é conferir a mostra do cineasta que irá rolar na Galeria Olido (no centro de São Paulo) a partir do dia 17 de fevereiro com ingressos a R$1,00. Mais informações no site da Catraca Livre.


A. Hitchcock dirigindo Kim Novak em Um Corpo que Cai (1958)


Um professor meu costumava dizer que todo mundo deveria assistir a pelo menos dez filmes de Hitchcock, permito-me corrigi-lo dizendo que todo mundo deveria assistir a pelo menos vinte filmes de Alfred Hitchcock.

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