quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Um modelo de Cinema Iraniano

Acabo de assistir a um filme iraniano em que uma criança muito pobre perde algo e passa por uma série de desventuras para recuperá-lo. Eu duvido que alguém, baseado nessa descrição, saiba dizer com propriedade de que obra cinematográfica estou falando. Essa sinopse se encaixa com perfeição em alguns prestigiados filmes produzidos no Irã, como O Balão Branco (de Jafar Panahi) e Filhos do Paraíso (de Majid Majidi). A verdade é que aparentemente alguém perder algo e buscar recuperar esse algo constitui um certo modelo de história nesse cinema que somada à tendência de se colocar crianças nos filmes transforma-se num verdadeiro paradigma.

Em O Balão Branco, Panahi narra a história de uma garotinha que após insistir muito com a mãe consegue que ela lhe dê dinheiro para comprar um novo peixinho dourado para o ano novo, mas no caminho ela perde o dinheiro. Descobrindo mais tarde que havia caído em um bueiro, tenta juntamente com seu irmão resgatá-lo. O filme mostra com frieza a realidade pobre do país, mas o que incomoda são as atitudes das pessoas, a falta de diálogo entre adultos e crianças e como as situações de conflito parecem forçadas a acontecer.

cena de O Balão Branco, Jafar Panahi, 1995

Em Filhos do Paraíso, Majidi apresenta uma história em que um garoto perde os sapatos recém concertados da irmãzinha (seriam da mesma família?) e enquanto não acham os sapatos perdidos resolvem dividir o tênis do irmão, até que ele se inscreve numa corrida onde ganharia um par de sapatos desde que chegasse em terceiro lugar. Aqui, diferente do filme de Panahi, o diálogo entre crianças e adultos (bem menos problemático) não é o foco, mas a atitude de uma família frente à sua pobreza. Apesar da inocência das crianças ser mostrada de uma maneira belíssima (sem contar a emocionante corrida final) o filme parece, assim como o anterior, explorar a miséria de seu povo não como crítica social herdada do neo-realismo italiano como fizeram Forugh Farrokhzad em Khaneh Siah Ast (algo como "A Casa é Negra", de 1963) e Dariush Mehrjui em A Vaca (de 1968). Não. O cinema iraniano dos últimos anos, de forma geral, parece promover-se às custas disso, mais do que debater. Se o cinema brasileiro da Retomada pecava pela exportação da miséria, o Irã parece cair na mesma questão.
Não há coragem para se debater a esse respeito diretamente, ao contrário, vemos apenas mais crianças perdendo coisas em um mundo que perde-se a si mesmo.

Um comentário:

  1. Não vejo assim. A denúncia social é sutil, devido ao fato de mais de 90% da própria sociedade iraniana ser islâmica, de origem xiita. Os costumes são outros, a postura social e cultural também. Queremos o ocidente como modelo, somos 'ocidentocêntricos'.

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